quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Informação e credibilidade no twitter

Lançado em 2006, o Twitter é uma ferramenta que tem chamado a atenção de comunicadores em geral. Apesar do crescimento ainda pequeno no Brasil (o Ibope/NetRatings recentemente divulgou um número de cerca de um milhão de usuários, mas apenas 140 mil recorrentes), seus usos têm sido cada vez mais discutidos. Em 2008, por exemplo, vimos claramente uma parte deles na divulgação da campanha de Barack Obama, nos Estados Unidos; na cobertura e discussão dos atentados em Mumbai, na Índia; e mesmo na cobertura e redes de cooperação formadas nas enchentes que atingiram Santa Catarina, no Brasil.

Por que o Twitter é relevante para o Jornalismo?

Desde o seu início, o Twitter teve uma dupla faceta no seu uso e apropriação: foi, ao mesmo tempo, uma ferramenta de conversação e uma ferramenta de informação. No entanto, talvez por conta da dificuldade em seguir uma conversação por ali, talvez por conta da sua assincronicidade (a conversa, no Twitter, estende-se no tempo e não se sabe quando o outro responderá a sua mensagem), ele, no Brasil, parece ter uma apropriação mais focada na informação. Ou seja, por aqui, o Twitter ganhou destaque e usuários pelo seu papel na construção e difusão das informações. Em uma recente pesquisa (2) com cerca de mil usuários brasileiros, descobrimos, por exemplo, que mais de 75% deles consideram o Twitter uma fonte de informações e 73% utilizam seu Twitter para divulgar informações que consideram relevantes. Mas apenas 39% afirmam utilizar o Twitter para fins de conversação. Isso não significa, no entanto, que o uso do Twitter é exclusivamente para notícias, mas sobretudo, que para as redes sociais que o utilizam, a informação é um valor muito relevante.

Ora, se o principal uso do Twitter está relacionado com a informação, aí está um nicho fundamental para o jornalismo e, fundamentalmente, para o jornalismo digital. Justamente pela arquitetura leve e capacidade de espalhar rapidamente as informações especializadas, o Twitter deveria, também, ser apropriado pelos veículos informativos. No entanto, para a apropriação, é preciso também pensar um pouco nos valores que são construídos na ferramenta. O Twitter está sendo apropriado como um veículo informativo, no entanto, não se pode esquecer que, em sua essência é um site de rede social (3) e que, portanto, a conversação também está no seu âmago.

Valores da Informação: Conversação e Cooperação

O Twitter vem se destacando como ferramenta informativa não apenas porque permite que informações especializadas e com credibilidade circulem mas, igualmente, porque permite que essas informações gerem conversações, debates e, através deles, novas informações. Mais do que gerar conversação e debate, o Twitter gera, também, cooperação e colaboração (como vimos, por exemplo, no caso do apoio aos desabrigados e desalojados em Santa Catarina, durante as enchentes de novembro de 2008). Como ferramenta de conversação, o Twitter é uma via de dois sentidos, o que muitas vezes é de difícil apropriação para os veículos noticiosos. A informação, no Twitter, não tem apenas valor por quem a dá, mas também, pelo debate que gera. E esse debate é relacionado também com a própria qualidade dos vínculos estabelecidos na rede social anexa ao sistema. É justamente através dessa rede social que são construídos os valores que considero relevantes para a informação divulgada.

Valores da Informação: Autoridade, Popularidade e Reputação

O valor de uma informação está sempre associado de forma direta, à credibilidade dela. E a credibilidade de uma informação está associada a quem a reporta. Costumo associar esse valor a três elementos da rede social: autoridade, popularidade e reputação. Esses três elementos, relacionados entre si, são as chaves para a construção da credibilidade.

A autoridade é freqüentemente relacionada ao poder. Sennett, por exemplo, explica que por conta disso a autoridade pressupõe "algo de produtivo". Assim, poderíamos dizer que a autoridade está relacionada ao poder sobre os demais, que é diretamente relacionado à produção. Dizemos, assim, para efeitos deste artigo, que a autoridade está relacionada à capacidade de influência na rede. Essa autoridade, na rede social, é também concedida e construída através de diversos mecanismos, entre eles, a popularidade e a reputação.

A popularidade mostra o quão central na rede está um determinado nó. Em termos de rede social, isso quer dizer que uma pessoa muito popular é muito conectada na rede. Quando pensamos no Twitter, poderíamos dizer que um usuário muito popular é aquele que tem muitos seguidores ou segue muita gente (muito mais do que a média dos demais usuários). No entanto, em uma análise mais qualitativa, a popularidade não necessariamente se traduz em autoridade. Alguém pode ter muitas conexões, mas isso não significa, necessariamente, que este usuário influencie os demais. Há twitter cujo poder de influência é muito grande (por exemplo, uma boa parte de suas mensagens é repassada na rede), mas que não necessariamente são aqueles mais conectados.

A reputação é um elemento qualitativo, que está relacionado com a impressão que os demais membros da rede social possuem de um determinado ator. A reputação é relacionada às ações, às mensagens e às impressões dadas por um ator. Alguém pode ter a reputação de conhecer bastante sobre medicina, por exemplo. Ou ter a reputação de ser engraçado. A reputação também é associada à autoridade. Pessoas com autoridade para falar sobre #gaza, por exemplo, precisam ter algum tipo de reputação no sentido de conhecer o assunto, estar presentes no local dos fatos etc.

Mas como isso se relaciona com a Credibilidade?

Vimos que o Twitter está sendo apropriado, no Brasil, como uma ferramenta informativa. Talvez pela sua estrutura leve, que permite o acesso rápido, por exemplo, via celular, talvez pela facilidade de encontrar mensagens e mesmo pela facilidade de interagir na construção da informação. Mas essa informação tem um impacto social imediato. Sua qualidade influencia a difusão dela na rede, a cooperação e a colaboração dos atores. Mas não só isso. A qualidade também está diretamente relacionada com os valores que vão ser refletidos para o ator ou veículo, tais como reputação, popularidade e autoridade.

Se a informação, no sistema, é um valor, este valor é também relacionado com a sua especialidade e informação para a rede social. Quanto maior a relevância, mais credibilidade e cooperação serão geradas pelos demais atores, que vão discutir, "retwittar" e mesmo comentar a informação em outros ambientes. Ou seja, limitar-se a repetir aquilo que todos os demais veículos já disseram não faz sentido. Para o jornalismo, isso representa um trabalho cada vez maior de busca e construção de informações de qualidade, relevância e especialização.

Citações:

(1) Honeycutt, Courtenay & Herring, Susan - 2009 (Beyond microblogging: Conversation and collaboration via Twitter. Preprint: http://ella.slis.indiana.edu/~herring/honeycutt.herring.2009.pdf)

(2) Recuero, Raquel & Zago, Gabriela - 2009 (Who do you follow? Exploring Social Capital Appropriation in The Brazilian "Twittosphere" - ainda não publicado)

(3) Boyd, danah & Ellison, Nicole - 2007 (Social Network Sites: Definition, History, and Scholarship) - http://jcmc.indiana.edu/vol13/issue1/boyd.ellison.html

*Raquel Recuero é doutora em Comunicação, professora e pesquisadora da Universidade Católica de Pelotas e do CNPq e consultora em mídias sociais. Mantém o blog Social Media.


Tags: credibilidade, jornalismo digital, jornalismo online, microblogging, microblogs, raquel recuero, twitter.


Sem comentários:

Enviar um comentário